terça-feira, 27 de setembro de 2016

(Miguel Torga)

Ai, a vida!

Quanto mais me magoa, mais a canto.
Mais exalto este espanto
De viver.
Este absurdo humano,
Quotidiano,
Dum poeta cansado
De sofrer,
E a fazer versos como um namorado,
Sem a namorada que lhos queira ler.
Cego de luz, e sempre a olhar o sol
Num aturdido
Deslumbramento.
Cada breve momento
Recebido
Como um dom concedido
Que se não merece.
Ai, a vida! Como dói ser vivida,
E como a própria dor a quer e agradece.


Nenhum comentário:

Postar um comentário