sexta-feira, 26 de julho de 2019

OS VEGETANTES - Egito Gonçalves

Continuam aqui roendo as unhas!
Substituem as unhas por poemas
(ou cafés, futebol, anedotário)
e estilhaçam espelhos que na luz
ao seu devolvem a cruel imagem.

Vidrado limo o rosto
de rugas sem memória
assistem à vida como um filme:
disparar sobre a tela é proibido
e além do mais inútil.

Curvam ao solo os ombros
escorjados; curvam-nos para
duradouras urtigas, seixos
sem horizontes, epitáfios
de lama, dezembros, poeira fria.

Se chovem as esperanças não acorrem
a apanhá-las na boca ao ar aberto.
Tijolo articulado a língua balbucia
"É a vida!". Sementes violadas
não germinam.

Em vão os bombardeiros os oráculos
com agulhas de sangue. Nada tentam
para vida à fala que utilizam,
ao país do cansaço que entre dentes
ressaca.

E fazem do amor essa triste umidade,
um delíquio formal logo amortalhado.

São dóceis, cibernéticos,
dia a dia premiados
de alguns gramas a mais
no chumbo do pescoço.


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