terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Canção das mulheres - Lya Luft

Que o outro saiba quando estou com medo, 
e me tome nos braços sem fazer perguntas demais. 

Que o outro note quando preciso de silêncio e não vá embora batendo a porta, 
mas entenda que não o amarei menos porque estou quieta. 

Que o outro aceite que me preocupo com ele e não se irrite com minha solicitude, 
e se ela for excessiva saiba me dizer isso com delicadeza ou bom humor. 

Que o outro perceba minha fragilidade e não ria de mim, nem se aproveite disso. 

Que se eu faço uma bobagem o outro goste um pouco mais de mim, 
porque também preciso poder fazer tolices tantas vezes. 

Que se estou apenas cansada o outro não pense logo que estou nervosa, ou doente, 
ou agressiva, nem diga que reclamo demais. 

Que o outro sinta quanto me dóia idéia da perda, 
e ouse ficar comigo um pouco - em lugar de voltar logo à sua vida. 

Que se estou numa fase ruim o outro seja meu cúmplice, 
mas sem fazer alarde nem dizendo: 
''Olha que estou tendo muita paciência com você!''

Que quando sem querer eu digo uma coisa bem inadequada diante de mais pessoas, 
o outro não me exponha nem me ridicularize. 

Que se eventualmente perco a paciência, perco a graça e perco a compostura, 
o outro ainda assim me ache linda e me admire. 

Que o outro não me considere sempre disponível, sempre necessariamente compreensiva, mas me aceite quando não estou podendo ser nada disso. 

Que, finalmente, o outro entenda que mesmo se às vezes me esforço, não sou, 
nem devo ser, a mulher-maravilha, mas apenas uma pessoa: vulnerável e forte, 
incapaz e gloriosa, assustada e audaciosa - uma mulher.

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