quinta-feira, 3 de abril de 2014

Filme do Mês do Mulher Sim Senhora

A Grande Beleza (La Grande Belleza) Italia, 2013.
Direção de Paulo Sorrentino. Elenco: Toni Servillo, Carlo Verdone, Serena Grandi, Fanny Ardant, Sabrina Ferilli, Carlo Buccirosso, Iaia Forte, Giorgi Passotti, Isabella Ferrari.

Vencedor de melhor filme europeu, indicado para o Globo de Ouro, Independent Spirit, 6º filme do cineasta napolitano Paolo Sorrentino. Tido como o herdeiro de Fellini, com este filme que é descrito como uma versão 60 anos depois de “La Dolce Vita”, agora a cores e com o personagem do jornalista (feito então por Mastroianni, aqui pelo grande ator teatral Toni Servillo). 
 

Fellini é a chave fundamental para penetrar no filme, seu estilo narrativo, seus habituais movimentos de câmera, marcações, figurantes bizarros, trilha musical misturando como a própria cidade de Roma (o sagrado e o profano). A partir dai  mergulhar num retrato contemporâneo e critico – porém sutil - de uma sociedade talentosa, uma cidade linda, uma população cheia de energia mas que se perde em banalidades. Algumas das citações porém é possível que a gente perca por falta de maior conhecimento do cotidiano romano (uma das poucas que eu descobri foi a presença de Serena Grandi, que foi uma voluptuosa estrela da teve, que leva a bronca quando vai tomar injeção de Botox!). 
 
Talvez por causa disso, o espectador casual pode se perder diante do filme ate porque faz tempo que não se cultua mais a beleza como um fator de qualidade no cinema. A Fotografia em filmes de arte europeus e até orientais recentes tem sido granuladas e feias. Mesmo no italiano que já teve a melhor direção de arte, a melhor fotografia, melhores figurinos, do mundo, que dava aulas para Hollywood em Cinecittá. Este filme dá sinais de que nem tudo esta perdido. Aqui, Roma volta a ficar deslumbrante, fotografada de maneira requintada e original. Como afirma Sorrentino: “Queria que as luzes de movessem com o filme. Gostava muito dessa idéia. Então ou as luzes se movem ou os personagens entram ou saem da luz o tempo todo”.

Há outro fator subjacente e evidente: o filme retrata a época desonrosa em que a Itália era dirigida pelo primeiro ministro Berlusconi e sua cultura do Nada, um palhaço que mais parecia um imperador daquela linha Calígula, guardadas as diferenças. Que era corrupto, superficial, adorava orgias e que finalmente acabou sendo cassado (e para piorar dominava todos os meios de comunicação). Nessa Roma do filme é a historia de alguém (no caso o diretor, não o personagem) que tenta encontrar algum sentido num mundo onde justamente as coisas perderam o sentido! Onde se acentuou a vulgaridade, a perde do sentido do pudor, vergonha, modéstia, discrição! 
 
Não é apenas uma carta de amor à cidade eterna mas uma denuncia dos excessos da Itália atual, que propicia aos romanos uma vida muito dura, sem sentido, cansativa e difícil. Mas para quem estiver atento não faltam momentos de incrível beleza e simbologia (exemplo: a menina que reclama dos pais que a forçam a trabalhar. Mas chorando vai cumprir o dever e pintar um quadro com tinta que joga numa tela branca).
O diretor dá algumas chaves para isso. Há uma citação no começo de um autor preferido de Sorrentino, Louis – Ferdinand Céline - Viagem ao Fim da Noite. Que podia se resumir assim “Nossa viagem é inteiramente imaginaria. Esta é sua força”. Depois se formam círculos como no inferno de Dante. E por fim refere-se ao Livro que Flaubert queria escrever e seria sobre o Nada. 
 
A Grande Beleza é a tentativa de louvar o belo enquanto se critica justamente a essa cultura do nada, do burro, do vulgar. É preciso não esperar uma narrativa tradicional e se deixar levar pelo redemoinho de imagens, com algumas citações explicitas de La Dolce Vita (a visita ao palácio com velas, a sequencia com a velha freira que seria milagrosa, a visita ao cabaré de mulheres nuas, a aparição crepuscular de Fanny Ardant (como fazia Anna Magnani em Roma de Fellini alias a presença frequente de freiras de todos tamanhos e idades, também fazem pensar no desfile de trajes eclesiásticos). E muita impressionante como imaginação e realização que nos tempos atuais talvez só um Wong Kar Wai seria capaz de concorrer (ainda em outra esfera). 
 
Acho A Grande Beleza um filme fascinante e o retorno da Beleza as imagens do cinema italiano. Temos agora um Novo cineasta genial para conferir.

Nenhum comentário:

Postar um comentário