sexta-feira, 17 de abril de 2020

Coisas de Aimée: Estória de um monge de Manoel de Barros!

Um monge descabelado me disse no caminho: 
“Eu queria construir uma ruína. Embora eu saiba que ruína é uma desconstrução. 
Minha ideia era de fazer alguma coisa ao jeito de tapera. 
Alguma coisa que servisse para abrigar o abandono, como as taperas abrigam. 
Porque o abandono pode não ser apenas de um homem debaixo da ponte, 
mas pode ser também de um gato no beco ou de uma criança presa num cubículo. 
O abandono pode ser também de uma expressão que tenha entrado para o arcaico ou mesmo de uma palavra. Uma palavra que esteja sem ninguém dentro 
(O olho do monge estava perto de ser um canto). 
Continuou: 
digamos a palavra AMOR. A palavra amor está quase vazia. 
Não tem gente dentro dela. Queria construir uma ruína para a palavra amor.
 Talvez ela renascesse das ruínas, como o lírio pode nascer de um monturo”.
E o monge se calou descabelado.

(Foto - Claustros da Catedral de Gloucester - Inglaterra)

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