terça-feira, 6 de dezembro de 2016

NÃO HÁ VAGAS (FERREIRA GULLAR)


O preço do feijão
não cabe no poema. 
O preço do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás,  a luz,  o telefone 
a sonegação do leite , da carne, do açúcar, do pão.

O funcionário público não cabe no poema,
com seu salário de fome, 
sua vida fechada  em arquivos.
Como não cabem no poema o operário 
que esmerila seu dia de aço e carvão nas oficinas escuras
- porque o poema, senhores está fechado: 
“não há vagas”

Só cabem no poema, 
o homem sem estômago,
a mulher de nuvens,
a fruta sem preço.

O poema senhores,
não fede, 
nem cheira.

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