quinta-feira, 23 de março de 2017

Amizade segundo Fernando Pessoa

"Meus amigos são todos assim: 
metade loucura, outra metade santidade. 
Escolho-os não pela pele, mas pela pupila, 
que tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante. 
Escolho meus amigos pela cara lavada e pela alma exposta. 
Não quero só o ombro ou o colo, quero também sua maior alegria. 
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. 
Meus amigos são todos assim: 
metade bobeira, metade seriedade. 
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos. 
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. 
Não quero amigos adultos, nem chatos. 
Quero-os metade infância e outra metade velhice. 
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto, e velhos,
para que nunca tenham pressa. 
Tenho amigos para saber quem eu sou, pois vendo-os loucos e santos, 
bobos e sérios, crianças e velhos, 
nunca me esquecerei de que a normalidade é uma ilusão imbecil e estéril"

Nenhum comentário:

Postar um comentário