terça-feira, 22 de março de 2016

Tati Bernardi

"E levantei a saia pra ele, de novo. Ele fugiu.
Eu corri atrás dele com a saia levantada. Ele chamou pelo pai.
Os amigos riram dele. Os homens adultos riram, alguns saíram de perto.
Um dos homens adultos falou que assim não se faz, você é menina.
Eu odiei ser menina, odiei ter nove anos, odiei que aquele garoto besta tivesse 11 anos. Odiei que homens adultos saíram da sala.
Eu segurei o rosto do menino, a essa altura todo melecado de muco nasal e lágrimas,
e pressionei meu lábio contra o dele.
Pronto, dane-se, tava resolvido.
Nem era meu primeiro beijo.
Eu já tinha agarrado à força outros garotos na escola e
já tinham chamado minha mãe e
minha mãe me perguntou por que eu fazia isso se eram meninos feios.
Foi alguma técnica que até hoje não entendi.
O pai dele apareceu e perguntou, querendo rir, se eu tinha bebido.
Eu ri, mas estava muito triste. Talvez agora a urgência parasse,
mas ela havia se transformado em um cinema inteiro vazio com uma tela em manutenção. Que foi isso tudo que eu fiz e por quê?"
 
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário