terça-feira, 25 de setembro de 2012

Baudelaire

Por sobre os pantanais, os vales orvalhados,
as montanhas, os bosques, as nuvens, os mares,
para além do ígneo sol e do éter que há nos ares,
para além dos confins dos tetos estrelados,
flutuas, meu espírito, ágil peregrino,
e, como um nadador que nas águas afunda,
sulcas alegremente a imensidão profunda
com um lascivo e fluido gozo masculino.

Vai mais, vai mais além do lodo repelente,
vai te purificar onde o ar se faz mais fino,
e bebe, qual licor translúcido e divino,
o puro fogo que enche o espaço transparente.

Depois do tédio e dos desgostos e das penas
que gravam com seu peso a vida dolorosa,
feliz daquele a quem uma asa vigorosa
pode lançar às várzeas claras e serenas;
aquele que, ao pensar, qual pássaro veloz,
de manhã rumo aos céus liberto se distende,
que paira sobre a vida e sem esforço entende
a linguagem da flor e das coisas sem voz!
 
(Tédio, Antônio Villarinho)
 
- by Paloma Aimée Ferreira -

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