terça-feira, 14 de novembro de 2017

Nuvens - Jorge Luís Borges

Não, nem a uma só coisa é alheia
uma nuvem. 
Não são as catedrais de vasta pedra e bíblicos vitrais
que o tempo há-de alisar. 
Nem a Odisseia, que muda como o mar. 
Diferente a sinto sempre que a abro. 
O reflexo da tua face é já outro no espelho que atua e
o dia é um duvidoso labirinto.
Somos os que se vão. 
A numerosa nuvem a desfazer-se no poente
é a nossa imagem. 
Incessantemente converte-se uma rosa noutra rosa.
És mar, és nuvem, és esquecimento.
És tudo aquilo que foste perdendo.



Nenhum comentário:

Postar um comentário