Por que não amaria esse corpo? esse corpo que me deu a primeira respiração e
os limites da dor e do prazer?
Esse corpo que me deu o sentido de mim e a percepção do outro?
Esse corpo com o qual levanto todas as manhãs para encontrar o mundo?
Por que não amaria esse corpo que cresceu, que esticou, que distendeu e contraiu,
que se abriu e que me deu meus filhos, o sabor, o cheiro de chuva?
Esse corpo com o qual eu sonho?
Esse corpo que engorda, emagrece, amolece, se enrijece, conforme eu lhe peça,
conforme eu determine? por que não o amaria?
Por que não amaria esse corpo que envelhecendo me conta histórias sobre mim e
sobre o tempo?
Por que não amaria a pele que o recobre, tecido e dobras tão sensíveis?
Por que não amaria esse corpo que me deu o sexo e a dança, que me deu a poesia e a língua? Esse corpo com o qual escrevo, me emociono, com o qual me entrego ao outro?
Por que não o amaria?
Por que não amaria esse corpo que um dia deixarei para que se transforme em terra,
parte da terra a alimentar a mínima vida?
Por que, por que não o amaria?
É tão pequeno, tão frágil e ainda assim me dá tanto.
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