quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Coisas de Aimée - Você já ouviu a frase “Minha avó foi pega à laço”?!!

Sou indígena laklãno Xokleng e já perdi as contas das vezes que ouvi esta frase. Muitas pessoas me falam com sorrisos: 
“Minha avó também era índia, ela foi pega à laço”.
Contam achando que estão me contando algo bom, por reconhecerem suas matriarcas como indígenas. Cada vez que ouço meu coração sangra. Imagino a dor e repulsa das parentes que sofreram tamanha violência. Quanto sofrimento e angústia passaram nas mãos de fazendeiros, bugreiros, caçadores de índios. Quantas foram a famílias que nasceram deste romance “minha avó foi pega á laço”? São muitas para contar. Nosso Brasil foi colonizado por estupradores e abusadores. Quando não estavam no ato, olhavam atrás da cortina, seguravam a porta para seus comparsas, vigiavam, 
pois na próxima seria sua vez. E aqueles que não cometiam o ato em sim, 
faziam de conta que não viam. 
E assim nasceu o Brasil. 
A diferença do tempo da colonização para os dias atuais é que, agora os estupradores e abusadores são também graduados ou figuras famosas da sociedade: juízes, advogados, promotores, jogadores de futebol, médicos, empresários, e por aí vai. Violam o corpo de mulheres indígenas, pretas, brancas; de crianças e adolescentes. 
E são muitos os que ainda fazem de conta que não veem. 
Ou será que estão espiando atrás da porta esperando sua vez?
A passividade, cegueira, omissão e negligência de muitos diante de um ato tão monstruoso e cruel endossa e reescreve a história de um Brasil 
com incontáveis avós pegas à laço.



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