Uma das coisas que a Ana Beatriz Cordeiro mais gostava na vida era ver os micos-leões-dourados que vinham comer pitangas, amoras e outras frutas no pedaço de Mata Atlântica que fica dentro da Fazenda dos Cordeiros, em Silva Jardim, interior do Rio de Janeiro.
Ana falava com orgulho da presença buliçosa dos micos, pulando de galho em galho em busca dos frutos mais maduros. Ela herdara parte de uma antiga fazenda de gado do pai, dividida pelos seis irmãos. Da parte que lhe coube na Fazenda dos Cordeiros, Ana fez uma pousada acolhedora, na borda da floresta, onde recebia hóspedes do Brasil e do mundo para jornadas de encantamento.
O despertar com os pássaros, o sussurro do vento nas folhas, os barulhos de bichos diversos que o ouvido urbano descobria aos poucos. A lenta mudança de cores no céu até o escurecer.
As grandes mesas compartilhadas no galpão para as refeições. As geleias, os pães, as conservas. O incrível orquidário, o viveiro de mudas usadas na restauração da Mata Atlântica. Até o Indiana Jones esteve por lá. Sim, o Harrison Ford plantou uma muda na fazenda da Ana !
Com todas essas atividades, a Ana dava emprego e sustento pra muita gente. E provava que era possível conjugar atividade econômica com conservação ambiental, a tal sustentabilidade de que tantos falam e tão poucos conhecem. Pois é. A Ana provou, na prática, que isso é viável.
Ela era uma usina de energia e trabalho. Transformar projetos em realidade era com ela. Não só na área ambiental. Mas também na cultura. Foi uma incentivadora do projeto Geladeira Cultural, que espalhou mini bibliotecas na zona rural de Silva Jardim. Ana Beatriz foi uma parceira decisiva da Associação Mico-Leão-Dourado e deixa uma vazio inimaginável.
Sua partida foi cedo demais. Súbita demais. Ana Beatriz tinha 53 anos. Ela deixou marido, filhos, irmãos, a mãe, dona Berli, de 86 anos, seus cachorros e gatos, amigos, projetos e sonhos inacabados. E um imenso silêncio na floresta que tanto amou.
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