Um monge descabelado me disse no caminho:
“Eu queria construir uma ruína. Embora eu saiba que ruína é uma desconstrução.
Minha ideia era de fazer alguma coisa ao jeito de tapera.
Alguma coisa que servisse para abrigar o abandono, como as taperas abrigam.
Porque o abandono pode não ser apenas de um homem debaixo da ponte,
mas pode ser também de um gato no beco ou de uma criança presa num cubículo.
O abandono pode ser também de uma expressão que tenha entrado para o arcaico ou mesmo de uma palavra. Uma palavra que esteja sem ninguém dentro
(O olho do monge estava perto de ser um canto).
Continuou:
digamos a palavra AMOR. A palavra amor está quase vazia.
Não tem gente dentro dela. Queria construir uma ruína para a palavra amor.
Talvez ela renascesse das ruínas, como o lírio pode nascer de um monturo”.
E o monge se calou descabelado.
(Foto - Claustros da Catedral de Gloucester - Inglaterra)
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