Passamos a vida inteira ouvindo
os sábios conselhos dos outros.
Tens que aprender a ser mais flexível, tens que
aprender a ser menos dramática, tens que aprender a ser mais discreta, tens que
aprender… praticamente tudo.
Mesmo as coisas que a gente já sabe fazer, é preciso
aprender a fazê-las melhor,
mais rápido, mais vêzes. Vida é constante
aprendizado. A gente lê, a gente conversa,
a gente faz terapia, a gente se puxa
pra tirar nota dez no quesito “sabe-tudo”. Pois é.
E o que a gente faz com
aquilo que a gente pensava que sabia?
As crianças têm facilidade para aprender
porque estão com a cabeça virgem de informações, há muito espaço para ser
preenchido, muitos dados a serem assimilados sem a necessidade de cruzá-los:
tudo é bem-vindo na infância.
Mas nós já temos arquivos demais no nosso
winchester cerebral. Para aprender coisas novas, é preciso antes deletar
arquivos antigos. E isso não se faz com o simples apertar de uma tecla. Antes de
aprender, é preciso dominar a arte de desaprender.
Desaprender a ser tão
sensível, para conseguir vencer mais facilmente as barreiras que encontramos no
caminho. Desaprender a ser tão exigente consigo mesmo, para poder se divertir
com os próprios erros. Desaprender a ser tão coerente, pois a vida é incoerente
por natureza e a gente precisa saber lidar com o inusitado. Desaprender a
esperar que os outros leiam nosso pensamento: em vez de acreditar em telepatia,
é melhor acreditar no poder da nossa voz. Desaprender a autocomiseração:
enquanto perdemos tempo tendo pena da gente mesmo, os demais seguiram em
frente. A solução é voltar ao marco zero. Desaprender para aprender. Deletar para
escrever em cima.
Houve um tempo em que eu pensava que, para isso, seria preciso
nascer de novo, mas hoje sei que dá pra renascer várias vezes nesta mesma vida.
Basta desaprender o receio de mudar.
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