"O amor é um gesto muito forte porque significa que é necessário
aceitar que a existência de outra pessoa se converta em nossa preocupação. Minha ideia sobre a reinvenção do amor quer dizer o seguinte:
uma vez que o amor se refere a essa parte da humanidade que
não está entregue à competição, à selvageria;
uma vez que, em sua intimidade mais poderosa,
o amor exige um tipo de confiança absoluta no outro;
uma vez que vamos aceitar que esse outro esteja totalmente presente
em nossa própria vida,
que nossa vida esteja ligada de maneira interna a esse outro,
pois bem, já que tudo isto é possível,
isto nos prova que não é verdade que a competitividade, o ódio, a violência,
a rivalidade e a separação sejam a lei do mundo.
O amor está ameaçado pela sociedade contemporânea.
Essa sociedade bem que gostaria de substituir o amor
por um tipo de regime comercial de pura satisfação sexual, erótica, etc.
Então, o amor deve ser reinventado para defendê-lo.
O amor deve reafirmar seu valor de ruptura, seu valor de quase loucura,
seu valor revolucionário como nunca o fez antes.
Não se deve deixar que o amor seja domesticado pela sociedade atual
- que sempre busca domesticá-lo-.
Em outros tempos, as sociedades clericais e
tradicionais buscaram domesticá-lo pelo matrimônio e a família.
Hoje se busca domesticar o amor com uma mescla de pornografia livre e
de contrato financeiro.
Mas devemos preservar a potência subversiva do amor e
afastá-lo dessas ameaças. E
isso é extensivo a outras coisas:
a arte também deve afastar-se da potência do mercado, a ciência igualmente. Ali onde há um pensamento humano ativo e desinteressado
há um combate para libertá-lo dos interesses."
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