Era uma vez uma menina órfã, muito bonita, objeto do sonho de consumo de muitos, cobiçada e desejada – criada e embelezada pelas mãos, olhares, sonhos e atenção de muitos. Até que um dia, um grupo que já estava cansado de cortejá-la sem sucesso, resolveu partir para o ataque. E entre eles, definiram que alguém teria de ser o padrinho – que seria uma espécie, assim, de ‘pai da moça’.
Antes de mais nada, se deram conta de que teria de ser alguém de outra cidade. Que não tivesse pudor e nem parâmetro cultural. E o escolhido veio com aquela voz sebosa, com um jeito de autoridade e foi, com arrogância e sempre respaldado pelo grupo de frustrados puxa-sacos, calando pelo medo quem ousasse contrariar aquilo que o ‘pai’ tinha planejado fazer com a moça bonita.
De cara, tratou de oferecê-la em banquetes, colocando-a na vitrine para os olhos vorazes e cheios de cobiça de quem tinha dinheiro. Mostrava aos poderosos as inúmeras vantagens de investir naquele corpo – certo de que ninguém ousaria enfrentá-lo. Como ela insistia em se manter pura, resolveu elaborar novos ardis – inclusive manipulando o desejo daqueles que haviam cuidado dela até a chegada do ‘pai’.
Tanto fez que conseguiu seduzir alguns...
O corpo que era bonito e definido, fruto da geografia poética e lúdica que advém da genética, foi sendo aviltado – com indesejáveis gorduras. Obrigou-a a aceitar consumir produtos que a fossem engordando – com pneus enormes, celulites e outros adendos. O que era lindo, virou uma verdadeira muxiba.
Mas o ‘pai’ continuava dizendo a todos que a menina continuava linda – ainda que ele mesmo, depois de ganhar dinheiro com o ofício de gigolô já não mais tivesse qualquer apego a ela. Na sua visão, o trabalho já estava feito. A menina bonita havia se transformado em algo saturado. Para tentar convencer os que questionavam acerca da menina, ele se valia dos puxa-sacos, os quais passaram a depender do seu apadrinhamento para sobreviver.
Muitos dos que a haviam criado, tinham desistido de tentar resgatá-la do vício e da indigência. Entregaram os pontos – alguns por medo da truculência, outros por fadiga.
E a moça bonita é apenas lembrança na memória de quem a conheceu um dia…
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