sábado, 7 de janeiro de 2012

SAVEIROS DA BAHIA

Kirimurê é como os índios Tupinambás chamavam a Bahia de Todos os Santos. No entorno desta baía desenvolveu-se uma região chamada Recôncavo Baiano, com importante produção de cana-de-açúcar e fabrico do açúcar, no tempo em que Salvador foi o principal porto exportador do hemisfério Sul. A pujança econômica da região e o seu potencial exportador em muito é devido a uma pequena embarcação de madeira com propulsão a vela, que dominou estas águas por muito tempo e que hoje raro se vê na paisagem - o saveiro.
Corruptela de saveleiro, embarcação portuguesa que pescava savel no Alemtejo (Agostinho, 1973), as técnicas de construção do saveiro constituem uma das mais antigas formas de manifestação cultural da Baía de Todos os Santos. A origem e a evolução das embarcações se entrelaçam com a História das Grandes Navegações, a Rota das índias, o Descobrimento do Brasil e a Fundação da Cidade do Salvador.
Desde então, a ocupação, o transporte, o comércio e a comunicação da Baía de Todos os Santos aconteciam graças à sua navegabilidade, gerando desenvolvimento social e econômico às cidades do entorno – Salinas, Itaparica, Cachoeira, Nazaré, Maragojipe, entre outras cidades - tornando o saveiro um dos principais meios de locomoção de cargas, pessoas e informações. Sem esquecer o seu papel como embarcação de combate nas batalhas para expulsão dos holandeses no Ciclo do Açúcar e na luta contra os portugueses, que culminou com a independência da Bahia. Fala-se de mais de 300 embarcações!
Hoje existem apenas cerca de 22 deles (Campos, 2008) sendo que apenas 3 ainda possuem condições de fazer o percurso Recôncavo-Salvador, para entregar elementos de cerâmica e palha produzidos no Recôncavo, os chamados caxixes. Toda quinta-feira é possível reviver um pouco dessa magia de outrora, saindo da feira de São Joaquim à tardinha: talvez encontre o “É da Vida”, ou será o “Vendaval II”, “Sombra da Lua”, quem sabe? Com muita sorte ainda se pode assistir ao singelo “Balet” de 2 ou 3 saveiros no Rio Paraguaçú na saída ou entrada de Cachoeira, mas na Regata anual Aratu-Maragojipe é um espetáculo a parte a presença dos saveiros, cada ano em menor quantidade.
Recentemente houve o reconhecimento do saveiro de vela de içar de Maragojipe, o “Sombra da Lua”, como Patrimônio Cultural do Brasil. O tombamento sem dúvida é um fato importante, mas talvez tenha chegado tarde demais: Saveiros na baía, já viu?

(Elisângela Leão - Arquiteta e urbanista)

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